Adoção pelo olhar da criança

Quando falamos sobre adoção pensamos muito na chegada desse filho tão esperado, na adaptação, em como contar sua história, entre tantas outras coisas. Mas já pararam para pensar que, normalmente, olhamos pela ótica do adulto? Falamos sobre o pai, a mãe e a família que irá receber esse novo membro sempre com o olhar de quem espera e não de quem chega. Que tal tentarmos compreender a adoção pelo olhar da criança que foi adotada?

Vamos pensar em como o filho que foi adotado se percebe. A princípio não é para existir diferença alguma entre filhos adotivos e biológicos, porém uma parte da história sempre será diferente, e essa diferença merece atenção. Quando uma criança foi adotada ainda pequena, até mais ou menos dois anos de idade, ela dificilmente terá lembranças de sua família de origem ou abrigo em que morou, portanto a parte da história que antecede a chegada na família fica na fantasia da criança. Fantasia por ser algo não concreto para ela. Não é algo que ela possa lembrar de ter vivido, sendo assim, fica no imaginário da criança tudo aquilo que os pais contam. Não ter uma memória pregressa pode auxiliar no processo de afetividade e identificação com a família, visto que não há comparações, mas ainda assim é possível que ela se perceba diferente dos demais, seja devido à características físicas ou até mesmo por saber de seu passado, por isso o diálogo franco e sincero desde cedo é tão importante.

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No caso de uma adoção tardia a criança tem memórias de sua antiga família ou abrigo. Inevitavelmente ela irá fazer comparações e o processo de identificação com a nova família pode ser mais demorado. A criança pode se sentir rejeitada pela família biológica e deslocada na nova. Pode ainda ignorar seu passado e se sentir totalmente acolhida pela família que a escolheu. Enfim, a criança pode se sentir de muitas formas diferentes, pois são muitos sentimentos envolvidos. Sentimentos que, às vezes, ainda não são totalmente compreendidos. E são esses sentimentos que irão definir como o filho que foi adotado se percebe como pessoa.

O ideal é que a criança não se perceba diferente de ninguém que o cerca, porém é necessário compreender que sua história de vida sempre terá dois inícios: quando nasceu e quando chegou na sua família. O modo como os pais lidam e conversam sobre sua origem influenciará muito em como essa criança irá se percebendo ao longo dos anos. Entretanto, essa percepção pessoal é um processo muito interno e complexo, pois como disse anteriormente, são muitos sentimentos envolvidos. Estamos falando de um passado, de amor, de família, de identificação. Uma ajuda profissional é muito bem vinda para lidar com todos esses sentimentos.

De um modo geral é bastante complicado definir como um filho adotivo se percebe, afinal, é um olhar muito pessoal e interno, mas espero poder ter ajudado um pouquinho mais a compreender o que pode se passar no mundo interno daquele filho que veio do coração.

Livia Oliveira

Psicóloga

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3 comentários sobre “Adoção pelo olhar da criança

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