Depressão pós-adoção

Depressão pós-adoção. Sim, ela existe!

Todos já ouvimos falar em depressão pós-parto, aliás ela é bem mais comum do que pensamos. Mas e depressão pós-adoção, você já ouviu falar? Pois é, ela existe e também pode ser bem comum. Esses dois tipos de depressão são muito semelhantes. Ambos acontecem após a chegada de um filho e pode acontecer com qualquer mãe. O que difere um pouco é que na depressão pós-parto há uma questão hormonal envolvida e na depressão pós-adoção há um contexto diferente de uma gestação.

Para compreendermos melhor é importante esclarecer as diferenças entre um episódio de tristeza e a depressão. Muitas mulheres apresentam tristeza e irritabilidade poucos dias após o parto. Essas sensações podem durar até quinze dias e os sintomas desaparecem espontaneamente. Na depressão pós-parto os sintomas surgem gradativamente e se tornam bem mais severos. A mãe chega a um ponto onde não consegue mais realizar tarefas comuns do dia a dia e o sentimento de tristeza é bem mais profundo. Na depressão pós-adoção, em geral, o problema é causado por cansaço extremo, expectativas não correspondidas e respostas negativas da sociedade. Claro que existem muitas particularidades, mas essas são as causas mais comuns.

Independente se o filho é biológico ou foi adotado, é fato que uma criança nova em casa muda completamente a rotina de uma família, e isso inclui noites mal (ou não) dormidas, a mãe passa a não ter mais vontade própria e tudo gira em torno do filho. Só isso já seria motivo o suficiente para abalar uma pessoa, pense então que além de tudo isso ainda tem que dar conta de todas as questões emocionais que envolvem uma adoção. É bastante coisa para processar internamente.

O próprio processo de adoção é bastante estressante e é muito comum as famílias criarem expectativas em relação à chegada do seu filho. O problema ocorre quando as expectativas são muito grandes e, consequentemente, são frustradas, e isso pode ocorrer de muitas maneiras. Às vezes, devido à espera e ansiedade em receber seu filho, os pais tentam se mostrar (para si mesmos também) como “super pais” mas, por um motivo ou outro, o vínculo entre pais e filho não acontece da forma esperada e isso pode gerar nos pais um sentimento de vergonha e até mesmo de culpa. Pode ocorrer também algum tipo de preconceito ou dificuldade de aceitação da sociedade em geral e até mesmo por parte da família, e isso obviamente abala os pais que estão passando por esse momento tão intenso. Podem surgir questões referentes aos pais biológicos e até mesmo dúvidas sobre saber ser mãe e pai.

De um modo geral, apesar de ser maravilhoso ter seu filho, existe todo esse lado intenso que é a chegada de um bebê/criança, por isso é importante ficar atento a você mesmo e em como você está lidando com tudo isso. Se você perceber que os seus sentimentos estão pesados demais ou se alguém lhe apontar isso, não hesite em buscar ajuda. Quando mais cedo iniciar o tratamento, mais rápido essas sensações irão passar. Lembre-se que não é, de modo algum, vergonhoso passar por uma depressão pós-adoção. É apenas um tipo de resposta a uma mudança tão grande na vida e ninguém está imune a sentir isso. Portanto, fique atento a você mesmo e não esqueça que é muito importante cuidar de si para poder cuidar de alguém.

Espero ter ajudado a esclarecer um pouco mais sobre o assunto. Um beijo e até a próxima!

Lívia Oliveira

Psicóloga: CRP 07/18713

livia@gravidezinvisivel.com

13 comentários sobre “Depressão pós-adoção

    • fico aliviada em saber que somos tantos no mundo passando pelo mesmo caminho e sentimento. Uma amiga adotante me contou, que no caso dela especificamente, quando o nenem foi pra casa, ela se sentiu extremamente estranha, pois aquele serzinho que ela tanto aguardou, era um estranho. Mas pouco tempo depois, tudo se ajeitou e o amor venceu. 🙂

  1. Simplesmente adorei este texto. Concordo plenamente com tudo o que foi dito. Não imaginava que a depressão pós adoção existisse, mas após adotar duas crianças e ver minha vida dar um giro de 360 graus, apesar da grande alegria, um grande medo tomou conta de mim. Tinha momentos de tristeza, desânimo, me sentia como aquelas mulheres que, tantas vezes vi. Mulheres que após darem a luz andava pela casa descabeladas, com olheiras, de pijama e chinelo o dia todo e assim por diante. Isso aconteceu, creio eu, em função das novas obrigações mas também pelo preconceito da sociedade com relação da adoção, problemas na hora de requerer licença do trabalho, pela cobrança por parte de alguns amigos (quanto à minha antiga vida -antes da adoção), de repente eles já não podiam mais contar comigo…
    Já havia observado que alguma coisa não ia bem. Eu tinha realizado o sonho da minha vida e não era para estar me sentindo daquela forma, me sentia mal acreditava estar sendo ingrata com aquelas duas criaturinhas que tinham dado um novo e melhor sentido a minha vida. Mas resolvi tomar uma atitude quando uma amiga muito querida me chamou e tivemos uma conversa sobre o “meu estado”. Levei um tempo para perceber o que estava acontecendo e com a ajuda de amigos e de um profissional superei a fase sem maiores dificuldades. Assim, aconselho a todos os que estão em vias de adotar que fiquem atentos a esses sentimentos. Um grande beijo!!

    • Verdade Rosa! A pediatra do meu filho me disse assim: “Não é depressão pós-parto, mas depressão pós filho!”. Nossa vida muda em todos os aspectos e muitas vezes não sentimos que somos compreendidas pelas pessoas na nossa volta, e vai virando uma bola de neve. Muito importante identificar os sintomas e procurar tratamento. Beijos, Lu

  2. Pingback: Depressão pós-adoção | Gravidez Invisível

  3. Esses medos são muitos comuns. Eu já estou habilita e tem horas que eu não compreendo meus próprios sentiment, é um medo misturado com ansiedade e alegris pela chegada dos meus futuros filho.

  4. Ótima explanação, aconteceu comigo, eu fiquei muito confusa com sentimento de culpa, dizia “meu Deus, eu desejei tanto um filho e agora que esta comigo estou desse jeito!”. Jamais imaginária que iria acontecer isso comigo, senti vergonha, lutei contra esse sentimento negativo, com a graça de Deus as coisas mudaram.

  5. Excelente matéria que aborda um tema que acontece com varias pessoas. Aconteceu comigo. Esperei pelo meu filho por 3 anos, e quando ele chegou, eu fiquei muito estranha, não sabia se tinha feito a coisa certa, como agir, foi muito difícil o início. Me sentia envergonhada, não falava pra ninguém essa mistura de sentimentos que habitava o meu coração. Até que uma amiga minha me chamou para uma conversa, e me falou sobre a depressão pôs adocao e isso acabou me tranquilizando. Com o passar do tempo tudo mudou, e pude curtir a experiência da maternidade, e está sendo maravilhoso. Cada dia que passa amo mais o meu filho. Ele é um menino extremamente comunicativo e amoroso. Ele é tudo na minha vida!

  6. Muito boa a matéria, eu tbem pasdei por isso, são tantos sentimentos envolvidos e o sentimento de culpa não deixa vc ver de fora o qual normal isso pode ser, fiquei muito debilitada fisicamente e emocionalmente, era tudo q eu sonhava e eu estava muito triste, mais tive q lutar e ir entendendo aqueles sentimentos, e passou, e a insegurança ficou para trás, em novembro faz um ano que minha filha chegou.

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